«Portugal já foi uma colónia de França, não?»

Regressei de uns dias em Paris e decidi abrir uma exceção no ponto de partida para o Entre Linhas. Não é uma declaração de um agente desportivo, mas sim de um lojista do Sri Lanka que procura sobreviver na capital francesa.

Respondi-lhe que não, naturalmente, guardando para mim o resto: Portugal não foi uma colónia de França, mas foi a primeira nação europeia a chegar ao Sri Lanka (Lourenço de Almeida, em 1505).

A revolta perante uma afirmação do género intrigou-me. Afinal, como poderia eu ficar tão incomodado perante um erro inocente?

Terá algo a ver com o orgulho nacional. Aquilo que senti no topo da Torre Eiffel, ao ver um quadro com a imagem da Ponte D. Maria Pia (Porto). Por esta altura, o leitor interroga-se sobre o elo de ligação entre o texto e o desporto. Lá chegarei.

Conclui a estadia com um jantar em casa de familiares, portugueses de segunda geração. Por ali senti a pequenez do meu orgulho nacional comparado com o dessa gente. Afinal, estava perante cidadãos do mundo, criados em França, com uma certa tristeza pela forma como os seus pais foram obrigados a abandonar o país em busca de melhores condições de vida.

A conversa chegou ao futebol, ao seu lado mais puro e gratificante. Por um lado, fico a saber que o primo benfiquista comprou uma camisola do FC Porto quando o clube azul e branco venceu a Liga dos Campeões em 2004.

A afirmação de Portugal era mais importante que a rivalidade que infeta o nosso país. Os dragões afastaram Marselha, Ol. Lyon e Mónaco naquela caminhada.

Por outro, confirmo a suspeita: acreditava-se em França que Franck Ribery iria vencer a última Bola de Ouro. A entrega do galardão a Cristiano Ronaldo inquietou profundamente os altivos gauleses.



Regressei a Portugal com um sorriso no rosto e deparei-me com a confusão habitual do nosso futebol. Acreditei que, a poucos dias de entrada em cena na Liga Europa, haveria espaço para hastear as bandeiras de Benfica e FC Porto e reforçar a importância do nosso sucesso lá por fora. Estava enganado.

Entre o ruído ensurdecedor nos corredores obscuros do futebol português, não é possível escutar as vozes de esperança de mais uma afirmação além-fronteiras.

É pena. Porque estamos a falar da representação de um país lá por fora. Porque Portugal é o António e a Maria (ou o Fernando, Tordo) a lutarem por um futuro melhor, à beira mar plantado ou de malas às costas e em vários cantos do mundo. Portugal são eles e somos nós.

Portugal é Cristiano Ronaldo a triunfar em Espanha, José Mourinho em Inglaterra, João Moutinho em França, Pedro Caixinha no México, Bruno Fernandes em Itália, Marco Paixão na Polónia e muito mais.

Hoje, poderá ser FC Porto e Benfica a vencer na Europa. Por eles. Por todos. Pelo país. Afinal, o mundo pode esquecer o nosso passado mas não conseguirá fechar os olhos perante as conquistas do presente e do futuro. Depende de nós.

Entre Linhas é um espaço de opinião com origem em declarações de treinadores, jogadores e restantes agentes desportivos. Autoria de Vítor Hugo Alvarenga, jornalista do Maisfutebol (valvarenga@mediacapital.pt)