O tempo retirou-lhe o estatuto de «alto e loiro» que um dia, nos anos 80, chegou para o ataque do Benfica. Os 50 anos recém-cumpridos, a 17 de Julho, não lhe roubaram muito à estatura, mas desfalcaram e escureceram-lhe a cabeleira que era imagem de marca nos seus tempos da Luz. Presença habitual junto dos jornalistas, sempre que uma equipa portuguesa se desloca ao seu país, Manniche teve esta sexta-feira a oportunidade de posar lado a lado com o Maniche de um «n» só.
Uma alcunha em sua homenagem, mas também um daqueles raros exemplos em que a réplica supera o original: a carreira do Maniche português deixou a perder de vista a do homem que, tudo somado, vestiu onze vezes a camisola da Dinamarca e nunca esteve numa grande competição de selecções. O próprio dinamarquês aceita os factos com um sorriso: «Fez uma grande carreira. Claro que é um orgulho para mim ter ficado como uma referência, em Portugal e no Benfica. Mas fico contente com a carreira do Maniche e não esqueço o grande golo que marcou à Holanda, no Mundial-2006».
Actualmente colaborador dos sectores de formação do F.C. Copenhaga, Manniche mantém bem viva a ligação a Portugal: «Ainda em Junho fui ao Cartaxo andar a cavalo. Adoro montar cavalos lusitanos», diz, lembrando uma paixão que já vem dos anos 80. Outra paixão, assume, é o futebol português. O risco de Portugal ser eliminado do Mundial em Copenhaga é, assume, uma perspectiva que o deixa incomodado: «Sinceramente espero que passe, até pela qualidade de espectáculo. E acredito que vai chegar ao segundo lugar no grupo, mas tem de jogar como uma equipa. Há grandes talentos como Simão, Deco e Cristiano Ronaldo. Mas o Cristiano tem de perceber que não pode jogar sozinho», diz.
Manniche hesita em assumir que vai torcer pela Dinamarca este sábado: «se queres que te diga», resume num português ainda ágil «fiquei chateado depois do jogo em Lisboa», diz. Porquê? A resposta não deixa dúvidas de que haverá pelo menos um dinamarquês sorridente com uma eventual vitória lusa no Parken: «Porque nessa noite perdemos, pá!»