Numa entrevista ao jornal Público, o português Nélson Évora comparou Usain Bolt com Lance Armstrong: são dois atletas bandeira, que por isso são (ou no caso do ciclista, foi) protegidos pela organização das respetivas modalidades.

«Acho que toda a gente já sabia que Lance Armstrong estava dopado. Eu vi o documentário e ele disse que todos estavam dopados e que ele era o melhor. O Armstrong estava dopado e toda a gente sabia», sublinhou nesta entrevista.

«Todos ficaram chocados quando se revelou ao mundo... Puseram-no lá em cima, mesmo sabendo que ele estava dopado. Protegiam-no porque ele fazia a modalidade voar.»

Usain Bolt, acrescenta, entra no mesmo pacote.

«Acontece o mesmo com o Usain Bolt. Se ele alguma vez for apanhado, o atletismo perde o seu pilar principal. Da mesma forma que o Armstrong era o pilar do ciclismo, o Usain Bolt é o pilar do atletismo. Enche estádios.»

Numa conversa à volta do doping, Nélson Évora foi de resto muito crítico com o que considerou um excesso de casos de dopagem no atletismo mundial.

«Há uma década, um atleta para correr os 100 metros abaixo dos dez segundos precisava de se encontrar na sua melhor forma e só o fazia uma, duas vezes por época. Era uma altura em que havia menos casos de doping e menos controlo. Atualmente correm sempre abaixo dos dez segundos. Até na preparação», referiu.

«O ser humano não evoluiu assim tanto. A tecnologia pode ter evoluído, mas são uns pauzinhos para a esquerda e outros para a direita.»

Nélson Évora diz que não é possível a um atleta estar sempre a melhorar os próprios registos, estar sempre a bater recordes. Os feitos têm de ser uma exceção, e não a regra.

«Foi-se evoluindo de centésimo a centésimo e, de repente, foi tirado quase dois décimos de segundo. O atleta mostra que está limpo por mostrar que não é uma máquina.»