Chama-se Márcio, tem vinte anos e joga no Marco. Ou melhor, não joga. No início da época tinha tudo acertado para ser emprestado ao Lixa, mas uma lesão fez o clube da II Divisão B desistir da aquisição, pelo que o jovem acabou por não ser inscrito por clube nenhum. Mas pertence ao Marco. Mesmo sem estar a jogar, e como esta é a história de um internacional atípico, estreou-se esta quarta-feira pela selecção de Andorra.
O jogo não correu bem à selecção do principado, perdeu frente à Arménia por 3-0 e falhou o sonho de pela primeira vez terminar a fase de qualificação para uma grande prova sem ser no último lugar do grupo, mas Márcio há-de guardá-lo para sempre na memória. «Foi muito bom», revela. «Representar a selecção do seu país e participar em jogos internacionais é o degrau máximo a que qualquer jogador pode chegar».
A história é porém ainda mais curiosa do que parece. É que Márcio já deixou o principado há oito anos. «Os meus pais emigraram para Andorra e eu nascei lá, mas quanto tinha doze anos regressaram a Portugal». Instalaram-se no Marco de Canavezes, de onde eram naturais, e foi então que Márcio começou a jogar futebol. Fez toda a formação no Marco e com dezasseis anos subiu ao plantel principal. «Em Agosto fui chamado para defrontar a Roménia, mas lesionei-me pouco antes de viajar». Depois de uma longa recuperação, e apesar de estar a treinar há apenas vinte dias, o seleccionador andorrano voltou a ligar-lhe e pôde mesmo estrear-se. Foi titular e jogou 56 minutos.
«Devem-me ter descoberto por causa dos comentários do meu irmão»
Mas como é que Andorra se lembrou dele? «Sinceramente também não sei», responde. «Sei que o treinador descobriu que eu estava a jogar no Marco e me ligou para saber se estava interessado em representar a selecção». Embora não saiba ao certo, desconfia o regresso da família a Andorra tenha precipitado a chamada. «A minha mãe há pouco tempo voltou para trabalhar lá e através disso soube-se que eu era jogador em Portugal. Penso que deva ter sido por causa do meu irmão. Ele anda lá na escola e deve ter comentado com os amigos. Isso chegou aos ouvidos do seleccionador que andou atrás da minha mãe para obter o meu contacto. Depois acabou por me convidar».
Quando o telefone tocou e do outro lado era o seleccionador David Rodrigo, Márcio jura não ter pensado duas vezes. «Primeiro fiquei surpreendido, não estava nada à espera que me convidassem. Mas depois fui realista. Sei que tenho vinte anos e que seria quase impossível ser internacional por Portugal. Por isso não hesitei e aceitei», diz. «Porquê? Porque gosto muito de Andorra, que foi onde nasci, e porque pode ser muito bom para a minha carreira. Vou fazer apuramentos para os europeus, para os mundiais, são jogos importantes, há muita gente a ver, muitos olheiros, posso ter a sorte de fazer um jogo bom contra um grande adversário e dar o salto para um clube maior».
«Há um projecto para fazer a selecção crescer»
Nesta estreia Márcio encontrou uma selecção débil, mas com muita vontade de melhorar. «É um nível muito pouco desenvolvido, tem cinco ou seis jogadores profissionais, os outros são todos amadores. Mas há um projecto de fazer a selecção crescer», conta. «Quando Andorra apareceu há dez anos era só goleadas, agora os jogos ainda não são equilibrados no futebol mas já o são nos resultados. Antes nunca tínhamos conseguido pontuar, neste apuramento fizemos cinco pontos, num grupo forte onde estavam a Holanda, a Rep. Checa, a Roménia, a Filândia e a Macedónia. Temos um jogador que já esteve no At. Bilbau, temos um que está no Elche, temos um que está na segunda divisão francesa, por isso estamos a construir uma equipa para melhorar».