Há dez anos, um jovem suplente de 18 anos chamado Cristiano Ronaldo assistia, no banco, à goleada do Manchester United sobre o Panathinaikos. Era a sua primeira experiência na fase de grupos da Liga dos Campeões. Portugal só tinha um representante na prova: o FC Porto, com nove portugueses no onze inicial, começava em Belgrado a caminhada que haveria de levá-lo ao título europeu.

Outras diferenças? José Mourinho tinha mais derrotas do que vitórias na Champions. O Barcelona estava fora da prova e ninguém se escandalizava. O Real Madrid, por seu lado, continuava a injetar milhões no projeto galático: depois de Figo, Zidane e Ronaldo, Beckham era o novo sabor da moda, um pouco como Bale dez anos depois. Será mesmo que tudo mudou assim tanto? A comparação entre as jornadas inaugurais da edição 2003/04 e da atual temporada deixa algumas pistas interessantes.

Uma prova mais cosmopolita

A alteração das regras de qualificação pela UEFA, na última década, abriu a competição a novos países. Em setembro de 2003, havia 15 nacionalidades representadas no lote de 32 equipas. Nesta edição da prova são 18, dos quais 14 já tinham entrado em 2003. Áustria, Roménia, Suíça e Dinamarca são as novidades.

Em 2003, havia 13 equipas - entre elas o representante português - que entravam em campo com 7 ou mais jogadores do país de origem. Em 2013, esse número caiu para seis. No sentido inverso, havia só oito equipas com menos de quatro jogadores nacionais: agora já são 12. Entre elas FC Porto e Benfica.

O número de futebolistas de origem nos onzes iniciais baixou substancialmente: em 2003 eram 168 (média de 5,25 por equipa), dez anos mais tarde apenas 148 (média de 4,6). Como consequência, a percentagem de golos marcados por jogadores do país das suas equipas também caiu: 30 por cento há dez anos, apenas 22% na semana que passou.

Menos espaço para surpresas

Em 2003/04 o FC Porto conquistou a Champions, tornando-se o último campeão exterior às quatro grandes potências (Espanha, Inglaterra, Itália e Alemanha). Foi o sintoma mais expressivo de uma prova que era então mais propensa a surpresas: em 2003, nos 16 jogos da primeira ronda, só dez terminaram com a vitória da equipa com ranking mais alto. Na jornada desta semana, foram 13 a acabar com o resultado mais esperado.

Menos portugueses em acção

Na última semana, FC Porto e Benfica utilizaram, em conjunto, quatro jogadores portugueses. Há dez anos, Mourinho tinha nove selecionáveis no onze inicial com que o FC Porto empatou em Belgrado. No que se refere a portugueses a atuar no estrangeiro, a situação não mudou: eram seis em 2003 (Figo, Meira, Capucho, Jorge Andrade, Fernando Couto e Sérgio Conceição), voltaram a ser seis na semana que passou (Cristiano Ronaldo, Pepe, Bruma, Paulo Machado, Neto e Danny). Já no que diz respeito a treinadores nacionais, o contingente aumentou: dois em 2003 (Mourinho e Queiroz), três em 2013 (Mourinho, Jesus e Paulo Fonseca).

Mais golos, de mais proveniências

Já se sabe: os 53 golos marcados na primeira jornada desta edição da Champions são o melhor registo desde 2000/01. Há dez anos marcaram-se apenas 40, à média exata de 2,50 por jogo. Em 2013, houve jogadores de 25 países a marcar. há dez anos foram 21 as nacionalidades representadas na lista de marcadores. Mas algumas coisas não mudaram: então como agora, os brasileiros marcam mais do que os outros. E, em 2003 como agora, só oito equipas ficaram em branco.

Jogar em casa conta menos

A primeira jornada desta edição da Champions registou oito vitórias dos visitados e sete dos visitantes. Um equilíbrio mais acentuado do que o verificado há dez anos, quando houve apenas quatro vitórias dos visitantes, para nove das equipas que jogaram em casa. A distribuição de golos reflete esse equilíbrio: 28-25 para os visitados, contra 24-16 para as equipas que jogaram fora.

Quando o Barcelona não contava

15 das 32 equipas na fase de grupo da Champions são repetentes em relação à prova de há dez anos. A Inglaterra, então terceira no ranking, tinha menos um representante do que agora. A Alemanha tinha apenas duas equipas na fase de grupos, contra as atuais quatro. E a Grécia, que no fim da época viria a sagrar-se campeã da Europa em seleções, tinha três, agora tem só uma. Além do Real Madrid, os outros representantes de Espanha eram Corunha, Celta e Real Sociedad. É difícil acreditar mas, há dez anos, o Barcelona nem sequer entrava no lote dos quatro melhores espanhóis.