Mónica Jorge, uma mulher entre homens no curso de treinadores da UEFA (IV Nível). Não mostra qualquer tipo de complexos. Pelo contrário, mostra um à vontade de treinador principal. Mas a adjunta da Selecção Nacional feminina diz que não quer treinar um clube principal.
«Não estou muito habituada a estas coisas», alertou Mónica confrontada com os microfones das televisões. Mas com o passar dos minutos, a jovem treinadora foi-se soltando e acabou a entrevista com um à vontade que poucos técnicos principais têm. «Estou num curso com jogadores campeões do Mundo, eu nunca lá cheguei», afirmou uma sorridente Mónica Jorge.
Mas nem a «graduação» dos colegas nem o facto de todos serem homens assusta Mónica Jorge. «Não é nada difícil, estou bem acompanhada, não podia estar melhor», afirmou. «O terceiro nível foi muito porreirinho, bastante divertido, estou à espera que este curso seja assim também.»
Lá dentro, na sala, Mónica diz que o ambiente é divertido. «Há sempre uma piada ou outra, porque às vezes é muito tempo lá dentro e faz bem para desanuviar», contou.
Treinar homens? Nem pensar
Em termos de objectivos, a treinadora não considera chegar a equipas da primeira liga. «Quero ajudar a desenvolver o futebol feminino, ser educadora, treinar no futebol masculino não me passa pela cabeça», garantiu, lembrando que há diferenças entre os dois tipos de futebol. «Não tanto a nível da linguagem, porque no feminino também se ouvem algumas coisas...mas a nível físico e psicológico há diferenças.»
Mas seria difícil entrar num clube da primeira liga? «A nossa mentalidade...por exemplo, nos outros países também já existem árbitras, e aqui em Portugal não. Acho que vai custar ainda um bocadinho para que isso possa vir a acontecer.»
Tiago Braz, coordenador do curso, é da mesma opinião. «Na teoria penso que é possível ter uma mulher num clube de primeira liga, mas é muito complicado. Tem muito a ver com a mentalidade latina.»
Mónica diz que a experiência pelo futebol masculino já teve o seu tempo. «Já treinei miúdos, foi uma boa experiência. Chamavam-me miss ou mister, às vezes miss mas apenas pelo gozo. Mas o meu sonho é colocar o futebol feminino lá em cima. E ser um exemplo para outras mulheres que sonham com o mesmo. Espero que um dia possam chegar aqui. Não é fácil, mas com trabalho e empenho consegue-se.»