Há noites perfeitas. Moldadas com gestos de luxo, coroadas com momentos inesquecíveis. Alturas em que os astros se alinham na melhor das combinações e em que nada parece dar errado. Coelho, guarda-redes do Paços de Ferreira, viveu, na última segunda-feira, frente ao Marítimo, a noite mais perfeita da sua, ainda, curta carreira. O próprio jogador admitiu isso no final do encontro em que, autenticamente, roubou o protagonismo a qualquer outro.
O despertar costuma ser ainda mais saboroso, pela certeza de que tudo foi real. Mas Coelho não irá, certamente, perder tempo a saborear o momento. A altura é de trabalho para ajudar a equipa e corre-lhe no sangue o espírito batalhador das gentes de Paços de Ferreira. «É uma cidade de gente humilde, de gente que sabe que tem de trabalhar para ter sucesso. São pessoas de garra, de grande força. O Coelho é um dos exemplos. Transporta para o relvado aquilo que é aquela terra, a humildade e o trabalho», salientou José Mota, o primeiro treinador do guardião enquanto sénior, ao Maisfutebol.
Formado nas camadas jovens do emblema pacense, Coelho teve de ser paciente para vingar no clube. No seu clube. «Era um miúdo das camadas jovens e tinha contra si o facto de não ter uma estampa atlética que dê logo confiança ao treinador. Trabalhou muito, noutros aspectos, para compensar a falta de estatura. Depois, era um rapaz da terra. Vive o clube de forma muito intensa o que por vezes lhe fazia aumentar os níveis de ansiedade. Teve de trabalhar isso também», lembrou José Mota.
Pedro: parceiro, mestre e guardião do segredo
Partindo, portanto, de dois aspectos que pareciam prejudicá-lo, a estatura e a ansiedade, como formar um guarda-redes? Aquele guarda-redes que, pelo menos em cinco ocasiões, negou o golo ao Marítimo em grande estilo? A resposta é dada por Pedro, treinador de guarda-redes dos «castores» e um das figuras do passado recente do clube: «O Coelho sempre foi assim, não surgiu agora, do nada. Trabalhava muito durante a semana e mesmo não jogando, nunca baixou os braços. Sempre acreditou que podia acontecer o que está a acontecer neste momento.»
Os dois partilham características comuns. São naturais de Paços de Ferreira, cumpriram o período de formação no clube, chegaram a titulares da equipa principal e, curiosamente, ambos são de estatura baixa. Pedro, outrora colega, tenta agora passar os seus conhecimentos a Coelho para que este voe mais alto. Embora, no entender do treinador, os sonhos do pupilo não sejam muito divagados. «O horizonte dele é agarrar o lugar no Paços de Ferreira. É ainda um miúdo, convivo com ele quase todos os dias e sei que o que ele quer é cimentar a sua posição no Paços que é o clube da terra, o clube que ele gosta», assegura.
José Mota remata aludindo à «felicidade» que sente por ter contribuído para o momento actual do guarda-redes. A Pedro é lançado um último desafio: o que é preciso fazer para marcar um golo a Coelho? «O importante é que ninguém descubra o segredo», atira, por entre risos.