As saudades são compreensíveis. Celso conquistou títulos atrás de títulos no F.C. Porto. Dois campeonatos nacionais, uma Supertaça, uma Taça dos Campeões Europeus e uma Taça Intercontinental. Foi dragão de 1985 a 1988. Sente-se dragão até hoje.
«Vivo em Fortaleza, tenho 56 anos e sou um portista dos bons», diz ao Maisfutebol, durante mais um dia de trabalho na Padaria CG. «Tenho este negócio há 19 anos. Apaixonei-me pelos bolos e salgados portugueses e decidi abrir uma panificadora».
Celso Gavião tirou um curso de pasteleiro e meteu as mãos na massa. «Tentei imitar alguma doçaria portuguesa, mas faltavam-me alguns ingredientes. Então optei por homenagear o F.C. Porto e a cidade Invicta. Criei um pastel de nozes e batizei-o com o nome de Pastel Porto».
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A vida passa devagar no Bairro do Castelão. Celso tem 12 funcionários e aproveita o tempo livre para presidir a uma associação que acompanha os antigos profissionais de futebol do Ceará (AGAP). «Além disso tenho vários imóveis para arrendamento. Não me posso queixar», admite.
Em Fortaleza, Celso recebe a visita «regular» de dois grandes amigos portugueses. «O Artur Jorge tem casa em Natal e vem ter comigo muitas vezes. O senhor Pinto da Costa também. Esteve cá há poucos anos, levei-o à praia e fui o guia turístico dele na região. São amizades eternas».
Celso Gavião considera, de resto, Artur Jorge e Pinto da Costa «génios do futebol». «Eu jogava no Bahía e recebi o convite para jogar no Porto. Informei-me com o Dudu, que jogava no Belenenses. Disse-me que ia para um bom clube, mas um clube ainda em crescimento».
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«Em três anos o F.C. Porto passou de clube médio a grande da Europa. Os maiores responsáveis foram esses dois senhores e os jogadores, claro», considera o antigo defesa central.

Em três épocas nas Antas, Celso fez 78 jogos e dez golos. Os mais importantes foram obtidos em Kiev e em Alvalade, num célebre Sporting-F.C. Porto da época 1985/86. Esse é, aliás, «um dos dois jogos melhores jogos» que fez nos dragões. «O outro foi a final de Viena».
«Tínhamos de ganhar em Alvalade, sob pena de ficar fora da corrida do título. Eu vinha de uma suspensão, por ter dado um soco ao Carlos Manuel (Benfica). Gostava de lhe pedir desculpa, até. Por isso essa partida era fundamental, para mim e para a equipa».
Aos 40 minutos, Fernando Gomes sofre falta de Duílio. Celso bate o livre. Com violência. A bola entra ao ângulo superior esquerdo. Vítor Damas voa para nada. «Foi um golaço, né?» Foi, Celso. Um golaço.
Os livres eram, afinal, a sua grande especialidade. «Nessa altura eu era o melhor. Tinha uma coxa forte. Olhava para a bola, definia uma zona para colocar o pé e nem pensava. Depois apareceram o Geraldão e o Branco, que também era ótimos a bater faltas».
A tarde de glória e o golo em Alvalade (1985/86):