Segunda jornada, Benfica-Gil Vicente, 89 minutos. Os encarnados perdiam por 0-1 e a Luz estava em estado de choque. Os golos nos últimos minutos deram uma das vitórias mais importantes da época e Luisão correu para os benfiquistas. Nos lábios leram-se palavras feias, atípicas da relação que se espera entre um capitão e os seus adeptos. O que é certo é que, à sua raiva, seguiu-se não só uma equipa invencível na Liga, mas também uma temporada intocável do central.

«É a minha melhor época de sempre». Se Luisão o diz, quem somos nós para o contrariar? Na verdade, até concordamos. Aos 33 anos, o brasileiro decidiu mostrar que ainda há centrais daqueles que não têm medo dos miúdos de 20 que correm mais, mas que, por outro lado, não sabem correr tão bem.

Foi preciso chegar a 27ª jornada e o título estar praticamente decidido para Jorge Jesus o fazer descansar. Até ao jogo com o Arouca, Luisão atuou todas as jornadas e sempre durante 90 minutos. O treinador do Benfica sabia o que lhe estava a pedir: um «Luisão como nunca», nas palavras do próprio Jesus. E o central não o desiludiu.

Além de todos estes minutos nas pernas, Luisão também foi mostrar lá à frente como se faz. Leva nesta altura cinco golos marcados na época e, ao lado dos sete golos de Garay, ameaça o recorde da dupla de centrais do Benfica mais goleadora de sempre (Ricardo Gomes e William, em 90/91, marcaram 13 golos).

Luisão parece ser agora a prova de que ainda podemos acreditar que há jogadores que se fundem com os clubes. Com dez anos de águia ao peito, o capitão torna-se o único «tricampeão» do plantel e já fala em terminar a carreira no clube. Acabaram-se os rumores de saída a cada verão e até os adeptos já lhe terão perdoado todas as palavras feias.