Com mais deceções do que surpresas, este tem sido um Brasileirão em inesperado ritmo de Cruzeiro.

À 26 ª jornada, o conjunto de Marcelo Oliveira lidera de forma destacada, com 11 pontos de avanço sobre um Grêmio em ascensão e que confirmou, em pleno Maracanã, estar em melhores condições do que o Botafogo para ser a única ameaça real ao líder do Campeonato Brasileiro.

Depois de um início de época muito promissor (com Seedorf em grande destaque), o Botafogo tem vindo a perder gás e a derrota do passado domingo até lhe custou a perda de uma presença no pódio. O terceiro posto pertence, agora, à maior surpresa coletiva da prova, que surge de Curitiba: «A maior surpresa para mim é o Atlético Paranaense, pelo excecional campeonato que faz», confirma, em comentário para o Maisfutebol, Jessica Corais, jornalista brasileira especializada em futebol, que vive no Rio de Janeiro.

«O clube veio da segunda divisão em 2012, onde foi terceiro classificado. No campeonato estadual atuou com um time misto, praticamente reserva. Optou por fazer uma pré-temporada maior com os seus jogadores e, assim, ao contrário de outras equipes que sofrem com a parte física, o Atlético vem se mantendo na parte de cima da tabela até aqui. Possui uma equipa sem grandes estrelas e aposta na força do seu conjunto», explica Jessica.

E há algumas notas negativas a assinalar, algumas delas de todo inesperadas. O Fluminense, campeão brasileiro em 2012, começou muito mal a prova e tem vivido em constante sobressalto.

Deco ainda queimou os últimos cartuchos de uma carreira brilhante, mas o anúncio do fim, um dia antes de completar 36 anos, simboliza o sentimento de queda de um Flu muito, muito distante do briho da época passada. A lesão grave de Fred, ponta-de-lança que esteve em grande na Confederações e agarrou a titularidade na seleção brasileira, também não ajudou.

Abel Braga passou, em poucos meses, de técnico campeão a despedido, mas a aposta em Wanderlei Luxemburgo não está a ter os frutos desejados, apesar das credenciais do antigo selecionador brasileiro e ex-técnico do Real Madrid.

Corinthians desilude, Galo olha para o Mundial

Nem só do Fluminense se faz a história das deceções deste Brasileirão. Outra a apontar é, sem dúvida, o campeão mundial em título: «A grande deceção para mim é o Corinthians. Atual campeão mundial, com um elenco recheado de bons jogadores, não consegue fazer um bom campeonato. Parece que houve uma acomodação e aquele brilho no olhar dos jogadores, aquela garra, vontade, se perdeu. Talvez fique, inclusive, fora da Libertadores 2014, o que para o clube seria péssimo, pois perderia poder de investimento para o próximo ano», refere Jessica Corais.

Os golos de Alexandre Pato tardam em ser decisivos e Tite, obreiro de um ano fantástico em 2012 (com os títulos sul-americanos e mundial) tem sido alvo de contestação insistente por parte da Torcida da Fiel.

Problema de origem semelhante poderá estar a ter Cuca no Atlético Mineiro. O Galo venceu de forma épica o título sul-americano de 2013, recuperando de uma desvantagem de 0-2 na primeira mão, em Assunção, com triunfo inesquecível num Mineirão a abarrotar.

O êxito na Libertadores projetou Bernard para o Shakhtar Donetsk (o F.C. Porto ainda tentou que o destino fosse o Dragão), deu a Ronaldinho Gaúcho um leque ainda mais alargado de títulos internacionais, reforçou Jô como alternativa ofensiva na seleção brasileira, mas a verdade é que não consolidou o Galo como candidato ao título. Antes pelo contrário: o At. Mineiro tem feito um campeonato irregular, num quinto posto que, apesar de tudo, ainda lhe dá algumas perspetivas de lutar por uma presença no «G4».

«Annus horribilis» do São Paulo

Pior, bem pior tem estado o São Paulo. Pode dizer-se, sem exagero, que este tem sido o «annus horribilis» do Tricolor do Morumbi. O conjunto são-paulino bateu recordes negativos, demorou a conseguir ganhar um jogo e isso custou já dois despedimentos de treinadores: primeiro Ney Franco (que levara a equipa à conquista da Copa Sul-Amricana em dezembro passado), depois Paulo Autuori, que trocara o Vasco da Gama por um projeto de recuperação do «seu» São Paulo, mas que acabou por agravar a crise de resultados do clube.

Um Fabiano triste e pouco goleador e um Ceni demasiado contestatário e menos seguro que noutras épocas têm sido a imagem de um São Paulo que, incrivelmente, se mantém em risco de ficar na «Z4», a zona de rebaixamento.

Com percursos não tão fracassados, mas também abaixo do que se esperava, têm estado o Inter de Porto Alegre (o projeto para o título de Dunga terminou em despedimento após quatro jogos sem vencer e o sétimo lugar na tabela), Flamengo (outro caso de grande instabilidade na equipa técnica) e Santos (ainda em fase de sentimento de orfandade de Neymar e sem ter conseguido o regresso de Robinho).

Outra fonte de problemas internos tem sido o Vasco da Gama. Com salários em atraso e um clima de cortes (só minimizado pela alegria do regresso de Juninho Pernambucano), o São Januário tem sido palco, neste Brasileirão, de muitas frustrações. A luta pela permanência não está a ser fácil.

As figuras individuais

Falar de futebol brasileiro será sempre falar de valores individuais. É certo que os clubes tendem a olhar cada vez mais para os aspetos coletivos, mas a base da magia do futebol no Brasil está no talento individual.

Quem estará a ser o melhor jogador deste Brasileirão? Jessica Corais surpreende nas escolhas: «Everton Ribeiro, do Cruzeiro. Talvez o melhor jogador do Campeonato Brasileiro. Tem a regularidade como seu ponto forte. Destacaria também o Paulo Baier, do Atlético Paranaense. Com 38 anos (fará 39 no dia 25 de outubro), e sete golos no Campeonato Brasileiro, é incrível como continua participativo e decisivo, num campeonato tão difícil.»

Para lá do já referido Everton Ribeiro, a chave do sucesso do Cruzeiro tem passado também pela conjugação da experiência de nomes como Tinga, Dedé e Júlio Baptista, com a juventude muito talentosa de Ricardo Goulart, médio-ofensivo de 22 anos contratado ao Inter de Porto Alegre (que havia sido emprestado ao Goiás, na época passada).

E por falar em Goiás, Walter continua um dos goleadores em foco. Cedido pelo F.C. Porto, tem contornado a fama de «gordinho» com golos importantes e vistosos.

Num Brasileirão atípico, um Cruzeiro regular e pragmático está muito bem lançado para suceder ao Fluminense como campeão. A confirmar-se a tendência, 2013 será um ano histórico para o futebol mineiro: depois do êxito do Galo na Libertadores, a Raposa prepara-se para abocanhar o título brasileiro.