A SAD do Benfica deu a conhecer, esta sexta-feira, os resultados da auditoria forense, que Rui Costa tinha prometido aos sócios, na sequência da «Operação Cartão Vermelho». Em causa está um possível esquema de fraude relacionado com a compra e venda de jogadores e envolve a SAD do Benfica. 

A investigação, realizada pela consultora independente EY entre 1 de setembro de 2021 e 13 de outubro de 2023, «não encontrou nenhuma situação ou particularidade em que a SAD tenha sido diretamente lesada por qualquer um dos seus representantes».

Ainda assim, a consultora deixa um reparo à SAD. «Importa notar que, ao longo do trabalho, fomos identificando um conjunto de oportunidades de melhoria de procedimentos e/ou de controlos internos, nas vertentes: documental, financeira e de análise de contrapartes, com o intuito de mitigar algumas das insuficiências detetadas. Entretanto, a Benfica SAD já implementou boa parte destes controlos adicionais para fortalecer o seu sistema de controlo interno, relativo aos procedimentos para futuras transações de jogadores.»

Segundo a EY, o objetivo da autoria foi averiguar a existência de «irregularidades» nos pagamentos e recebimentos nas transferências, eventuais prejuízos suportados pela SAD e ainda «o grau de envolvimento e a amplitude do conhecimento por parte dos intervenientes envolvidos em tais transações, bem como eventuais conflitos de interesse».

As informações em análise, fornecidas pelo Benfica, focaram-se no período de 14 anos entre 2008 e 2022. A EY garante que não foi «apresentado qualquer tipo de restrição de acesso à mesma», embora não tenha «realizado qualquer verificação sobre autenticidade» dos documentos.

Já o Benfica, em comunicado, refere que deu «total autonomia» à consultora, «tendo sido analisadas um total de 51 transações em todas as suas vertentes, correspondentes à totalidade dos contratos que o MP terá considerado, de alguma forma, suspeitos».

Os 51 negócios analisados envolvem os seguintes jogadores: Derlis Gonzalez, César Martins, Claudio Correa, Julian Weigl, Pedro Henrique, Raúl de Tomás, Yony Gonzalez, Bernardo Martins, Gabriel Pires, Haris Seferovic, Jardel, Pedro Rodrigues ("Pêpê"), Ronaldo Camará, Erdal Rakip, Odysseas Vlachodimos, Andrija Zivkovic, Pelé, Jonathan Ongenda, Marçal, Konstantinos Mitroglou, Ljubomir Fejsa, Stefan Mitrovic, Francisco Ferreira ("Ferro"), Dálcio Gomes, Ishmael Yartey, Nolito, Nuno Coelho, Anderson Talisca, Andreas Samaris, Jonas, Loris Benito, Filip Djuricic, Guilherme Siqueira, Lazar Markovic, Lisandro López, Nuno Santos, Lima, Rogelio Funes Mori, Yannick Djaló, Ghislain Mbeyo’o, Axel Witsel, Emerson, Victor Lindelöf, Rodrigo Mora, Daniel Wass, Jonathan Urretaviscaya, Adel Taarabt, Morato, Everton (Cebolinha"), Pedrinho e Lucas Veríssimo.

Relativamente às comissões, a EY apurou que em 71% dos casos foram superiores a 3% da remuneração bruta e em 44% foram superiores a 10%, valores que excedem as "guidelines" da FIFA, porém, «não indicam, necessariamente, uma prática inadequada».

Em 10 situações, refira-se, os negócios foram efetuados com entidades sediadas em paraísos fiscais e, em igual número, o intermediário apresenta um conflito de interesses com o próprio jogador.

As caixas de correio eletrónico de Domingos Soares de Oliveira, Miguel Moreira e Paulo Alves também foram analisadas.

«Esta análise de emails traduziu-se num volume de 354 GB de informação indexada através de tabelas com 'key words', relacionadas com os 51 jogadores analisados e os 76 agentes envolvidos, que deram origem a 1,7 milhões de hits e a 244 747 emails analisados», referiu a EY.

«Da revisão de emails sobre as transações, ficou claro que havia uma troca de informações importantes dentro de um grupo restrito de pessoas. Em relação à autorização ou confirmação para realizar pagamentos, Miguel Moreira e Paulo Alves procuravam, quase sempre, validar se Luís Filipe Vieira estava de acordo com qualquer pagamento, antes da sua realização. No que diz respeito à gestão do futebol profissional, é possível verificar, ao longo do tempo, uma grande envolvência por parte do diretor desportivo em funções em cada momento da análise», lê-se no documento.

A SAD liderada por Rui Costa revelou ainda que já enviada cópia do relatório para o Ministério Público e garante que «não deixará de zelar pela defesa intransigentes dos interesses da Benfica SAD em tudo o que se revelar necessário, procurando pautar a sua conduta, sempre, pela legalidade e pelas melhores práticas.»

Os resultados, diga-se, são publicados um dia antes das Assembleias-Gerais das águias, marcadas para este sábado.