A cidade de Oliveira do Bairro, entre Aveiro e Águeda, vai ficar às moscas neste sábado. Com apenas cinco mil habitantes, prevê-se que mais de três mil se desloquem a Lisboa para acompanhar o jogo da equipa local diante do Benfica, a contar para a IV eliminatória da Taça de Portugal. É caso para dizer que saiu a taluda premiada a esta modesta agremiação da II Divisão, Série C, já com 85 anos, cerca de 1200 sócios pagantes, e um orçamento anual na ordem dos 250 mil euros.
O Benfica era mesmo o adversário mais desejado na localidade bairradina. A população tem uma costela encarnada indisfarçável, bem presente no próprio plantel da equipa mais representativa do concelho, que está em festa desde o dia do sorteio e promete estendê-la a Lisboa num cortejo de gente ávida de mostrar o orgulho que sente por uma região e, em especial, pela sua equipa. Orgulho, por exemplo, pelo facto de ter 300 miúdos nos escalões de formação e de quase 70 por cento do plantel sénior ser formado por atletas da casa.
O Oliveira do Bairro é gerido há alguns anos por uma comissão administrativa de sete elementos, reflexo notório das dificuldades em encontrar pessoas disponíveis para dar a cara por um emblema que se debate com as dificuldades próprias do futebol amador. Os jogadores têm as mais variadas profissões, predominam os estudantes, mas há professores, empresários, agentes imobiliários ou empregados de armazéns. Todos com um sorriso de orelha a orelha por poderem gozar do privilégio único de defrontarem alguns dos seus ídolos.
A última - e única - vez que os oliveirenses defrontaram um grande remonta à temporada de 1981/82, também na IV eliminatória, o recorde do clube na prova. Há, por isso, ainda muita gente que se recorda do autogolo de Raul Águas que ajudou os leões a vencer em Alvalade pela margem mínima, 2-1.
Desta feita, a ilusão de escrever uma história diferente é enorme e nem o facto de o adversário dizer muito aos jogadores e à cidade consegue tolher o desejo de fazer Taça na Luz.
Águias versus falcões
A águia do Benfica dispensa apresentações, mas o que talvez muita gente não saiba é que os oliveirenses são conhecidos como os falcões do Cértima, o rio que banha a cidade. A ave, outrora muito característica na região, já só se avista de vez em quando, mas o epíteto perdura desde a época de 1971/72, quando a equipa bairradina «arrasou» com a concorrência no Distrital de Aveiro.
Conta-se que num jogo em Estarreja, depois de uma exibição e resultado memoráveis (1-4), o então presidente da Direcção, Fausto Barata, simultaneamente jornalista na imprensa local, comparou a equipa nas suas crónicas às célebres aves de rapina. O autor do cognome viu nessa caminhada heróica e galopante qualquer coisa como falcões levando sempre a melhor sobre os adversários, que seriam assim presas fáceis.