Bebiano Gomes saltou para a esfera mediática nas últimas semanas, no papel de advogado de Bruma, mas na verdade é uma figura do futebol português desde a década de oitenta, conhecido então como Bio.

Nascido na Guiné-Bissau, Bebiano chegou a Portugal com 15 anos, estávamos então em 1980. Manuel Simões, industrial luso radicado naquele país africano, deu-lhe 17.500 escudos, verba necessária para o visto, e duas cartas de recomendação. Uma para a Académica, outra para o Sporting. Bebiano começou por ir a Coimbra, mas não havia treinos de captação. Regressou a Lisboa e pernoitou em Moscavide, para no dia seguinte ir a Alvalade. Apanhou o autocarro e pediu ao motorista que lhe indicasse a paragem em que devia sair, mas este só se lembrou quando já ia em Benfica.

Já que ali estava, Bebiano decidiu tentar a sua sorte, e acabou mesmo por ficar. Arnaldo Teixeira foi quem aprovou a sua contratação, mas Jesualdo Ferreira foi o seu primeiro treinador. «No primeiro jogo que realizei com os juniores, no torneio da Torralta, já lá vão mais de trinta anos, apertava e muito o calor algarvio. A meio da primeira parte, estava a jogar a trinco e corri para a linha lateral para beber um pouco de água - levei um raspanete do professor: ¿Ou voltas para o teu lugar, ou vais recambiado para a Guiné¿», conta o luso-guineense.

Foi Jesualdo Ferreira, de resto, que começou a tratar Bebiano por Bio, um diminutivo que acompanhou toda a sua carreira de jogador. Dos 15 aos 18 anos viveu no Lar do Benfica. Só jogou uma vez pela equipa principal das «águias», ainda como júnior e num «derby» com o Sporting, mas de carácter amigável. Ao chegar aos seniores foi emprestado ao Farense durante três épocas. No emblema algarvio foi colega de Jorge Jesus e do seu adjunto Miguel Quaresma, assim como de Pereirinha, Mészaros, Paco Fortes, Carlos e Alexandre Alhinho. Já desvinculado do Benfica rumou ao Penafiel. Inicialmente ficou três épocas, mas depois voltou para mais uma. Pelo meio representou Tirsense, Beira Mar e Ac. Viseu. Foi frente a esta equipa, precisamente, que sofreu a lesão grave no joelho que ditou um final de carreira precoce, com apenas 28 anos.

Penduradas as chuteiras decidiu investir na formação. Terminou o 12º ano e apostou em cursos de Técnico Profissional de Arquivo e Fisioterapeuta. Tirou também alguns níveis do curso de treinador. A ligação ao Penafiel continuou, noutras funções. Começou por trabalhar na gestão dos sócios e organização da bilheteira, passando depois a secretário-técnico e mais tarde a diretor desportivo. Um dia, ao marcar presença numa reunião da Liga, percebeu que o clube «rubro-negro» era o único que não tinha nenhum jurista a representá-lo.

Bebiano decidiu então tirar o curso de Direito. Começou em 2003 e acabou em 2007, embora só no ano passado se tenha livrado do estatuto de «estagiário». Era um advogado de pleno direito há pouco tempo quando mediou as transferências de Agostinho Cá e Edgar Ié, do Sporting para o Barcelona.

Há cerca de um mês foi falado como possível sucessor de Jokanovic no comando técnico do União da Madeira, mas continuou como advogado. Por essa altura foi contactado por Cátio Baldé para se tornar representante legal de Bruma, e ao estudar o processo entendeu que o vínculo do jogador com o Sporting estava a terminar. Uma posição comunicada formalmente ao clube leonino na quinta-feira, dia em que Bebiano disse, na TVI, que o internacional sub-20 «está com a cabeça fora do Sporting».