O Atlético Clube de Portugal, histórico clube de Alcântara, vive dias de terrível angústia, dividido entre a alegria dos resultados que lhe permitem comandar a Liga de Honra e a tristeza de não poder jogar no «mítico» Estádio da Tapadinha. A direcção comandada pelo histórico José Almeida Antunes desespera por conseguir pouco mais de duzentos mil euros que lhe permitam fazer as obras impostas pela Liga e, assim, trazer a magia de volta para casa. Enquanto isso não acontece, a equipa vai festejando na Reboleira, na Amadora, deixando um enorme vazio na nostálgica Tapadinha.

«Faz-nos falta o cheiro da Tapadinha»

Almeida Antunes, há mais de trinta anos na direcção do Atlético, é o rosto desta ambiguidade. «É um momento que vivemos com felicidade e preocupação. Com felicidade pelo que está a acontecer, pela subida, um dos mais belos momentos da nossa vida, pela forma como o campeonato está a decorrer e pela prestação que a equipa está a ter, mas com uma preocupação diária no que toca à parte financeira. O problema de termos subido é não termos um estádio em condições de poder jogar aqui, o que destabilizou completamente a nossa situação financeira», conta um presidente dividido.

A 29 de Maio, Alcântara saiu à rua para festejar a subida à Liga de Honra, o maior sucesso desde que o clube entrou em declínio no final dos anos setenta, depois de ter ombreado com os grandes no principal escalão. Mas depois da festa, foi preciso fazer contas. A Tapadinha não reunia as condições mínimas impostas pela Liga. «Além da receita que perdemos, porque a Tapadinha estaria sempre bem composta, temos de pagar o aluguer do campo e temos de nos responsabilizar pela manutenção do relvado, mantendo dois funcionários do Estrela», conta o presidente.

Deus na Tapadinha com a bênção de Jesus

No Estádio José Gomes, o Atlético tem tido uma média modesta de pouco mais de quinhentos adeptos por jogo, o que não chega para pagar as muitas despesas que a Reboleira implica. «Na Tapadinha os custos do policiamento e com os bombeiros estavam combinados há muito tempo. Os bombeiros podiam utilizar a nossa piscina e também tínhamos um acordo, com custos reduzidos, com a polícia, uma vez que eles estão mesmo aqui ao lado. Na Amadora, essas despesas triplicam. Em cinco jogos voaram 15 mil euros», acrescenta o amargurado dirigente.

As vistorias da liga resultaram num relatório que obriga o clube a um investimento de mais de 200 mil euros para colocar a Tapadinha em condições. É preciso criar uma zona mista para os agentes do futebol, construir casas-de-banho para senhoras e deficientes, remodelar os gabinetes de imprensa e dos delegados da Liga, improvisar uma entrada para ambulâncias e «dar um jeitinho» nas bancadas que estão completamente degradadas. As cadeiras podem ficar para mais tarde. «Falta tudo e não falta nada. A Câmara de Lisboa (CML) dá-nos 115 mil euros, segundo um protocolo que assinámos, mas falta muito dinheiro, com a agravante de que a primeira tranche da CML, de 60 por cento, só chegar no primeiro trimestre de 2012. Estamos a tentar conseguir o resto, através de uma parceria com a EDP ou com outros parceiros para obter os cem mil que faltam para começarmos as obras. Portanto, estamos com algum cuidado em começar, porque depois vamos ter os empreiteiros a baterem-nos à porta», conta Almeida Antunes.

O presidente queria ter as obras concluída em finais de Janeiro, de forma a receber o Belenenses, já na segunda volta, na Tapadinha. Uma meta difícil de alcançar, uma vez que as obras ainda nem começaram. «O objectivo está um pouco prejudicado porque, cautelosamente, não nos queremos atirar sem ter garantias, mas mais jogo, menos jogo, será por aí. Vamos voltar à Tapadinha ainda esta época, disso podem ter a certeza. Fui aconselhado a ter um bocadinho de calma, mas vamos lá», atirou o presidente, agora mais confiante.