Dani, atual comentador da TVI é, seguramente, o jogador português que mais vezes jogou no Arena de Amesterdão, palco da final desta quarta-feira. Num depoimento exclusivo ao Maisfutebol o antigo número 14 do Ajax entre 1996 e 2000, desvenda um pouco do mistério sobre um estádio que marcou uma época no futebol europeu:

«O meu primeiro contacto com o Arena foi na dia da inauguração, 14 de agosto de 1996. Eu tinha acabado de chegar ao Ajax. Era a minha segunda experiência no estrangeiro, depois do West Ham. Fiz os exames médicos durante a tarde e os dirigentes levaram-me depois a conhecer as instalações. Havia partes que estavam fechadas, e só seriam mostradas depois da cerimónia de abertura, mas logo nesse primeiro impacto deu para ver muitos dos pormenores que, ainda hoje, 17 anos depois, o tornam num dos estádios mais modernos do futebol europeu.

Nessa noite, estive no relvado antes da cerimónia e do jogo inaugural e depois vi o Milan, de Baresi, Baggio e Savicevic, ganhar facilmente (3-0, N.R.) à minha futura equipa. Na altura, o facto de ter aquecimento e um tecto de abrir e fechar era o aspecto que impressionava mais. Mas todas as instalações eram top. As boxes para os sponsors, por exemplo, valiam bem o dinheiro que as empresas pagavam, com serviços 5 estrelas. A ligação comercial ao clube foi sempre bem explorada, como não demorei a perceber.

Foi o estádio onde joguei mais vezes na minha carreira, e entre três épocas de Liga dos Campeões e uma de Taça UEFA, um título de campeão e duas Taças, há alguns jogos que não esqueço. Um, claro, é a minha estreia na Liga dos Campeões. Ganhámos 4-1 ao Glasgow Rangers. Na primeira parte marquei dois golos de cabeça e ainda tive um remate na trave. Teria sido uma estreia ainda mais inesquecível.

Lembro-me também de uma reviravolta com o Bochum, para a Taça UEFA: começámos a perder 0-2, mas depois marcámos quatro golos em dez minutos e ganhámos. Outro jogo marcante foi um clássico com o Feyenoord, o primeiro depois de um outro marcado por incidentes graves entre as claques, que resultaram na morte de um adepto. Havia um ambiente especial e, por ordem da federação, entrámos em campo com camisolas especiais, contra o racismo. Foi uma iniciativa importante, que ajudou a limitar os incidentes graves nesses jogos. Nessa tarde ganhámos 4-0.

Nesses três jogos viveu-se o ambiente das noites especiais. Porque o Arena tem dois tipos de atmosfera: na Liga, há muitas famílias com lugar anual, o ambiente é mais calmo. Mas nas grandes decisões, e nas noites europeias, aí sim, sentíamos como o estádio pode criar um cenário fantástico. Como está sempre total ou parcialmente fechado, qualquer som se torna quase ensurdecedor. Lembro-me de que todos os assentos tinham uma bandeirinha do Ajax, e a entrada em campo era um momento muito intenso. Já vi que vão fazer o mesmo para a final, com bandeiras azuis e vermelhas, e não tenho dúvidas de que Benfica e Chelsea podem contar com um grande espectáculo.

Tenho muitas memórias felizes do Arena, mas recordo também um problema recorrente: a qualidade da relva, por causa da pouca circulação do ar. O estádio que construíram depois na Holanda, em Arnhem, já refletiu essa experiência, e o relvado saía para o exterior, através de carris. Mas no Arena o tapete nunca ficou completamente estabilizado. Penso que o problerma continua: nas imagens que vi do treino do Benfica, alguns jogadores escorregaram. E pareceu-me ouvir o Jorge Jesus a chamar a atenção para isso mesmo. Espero que não venha a influenciar esta final.»