Pinto da Costa vai depor como testemunha no processo «Apito Dourado», depois de o juiz ter deferido o pedido da defesa do antigo presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol, Pinto de Sousa.
O requerimento do advogado João Medeiros foi apresentado na sequência das declarações hoje prestadas em tribunal por Carolina Salgado e que a defesa pretende contraditar.
Defesa não quer depoimento de Carolina: «Está de mal com alguém?»
Refira-se que a ex-companheira de Pinto da Costa afirmou esta manhã que o presidente do FCP, Valentim Loureiro e Pinto de Sousa mantinham encontros frequentes no restaurante portuense «Degrau Chá», propriedade do autarca de Gondomar, em que se discutia a escolha de árbitros mais favoráveis ao Gondomar Sport Clube.
«Eu ouvi a conversa do major com o senhor Jorge Nuno para que este falasse ao Zé», numa alusão ao ex-presidente do Conselho de Arbitragem da Federação. Na versão de Carolina, Valentim dirigia-se a Pinto da Costa nestes termos: «Vê-la se falas ao Zé».
A antiga companheira do presidente portista está segura de que «falavam de árbitros», embora não se recorde dos nomes. O «major pedia ao senhor Jorge Nuno para interceder», falando com o amigo Pinto de Sousa. «Ouvia o senhor major falar com o Jorge Nuno», pedindo que intercedesse pelo Gondomar porque «aqueles gajos portavam-se mal», numa alusão aos árbitros que apitavam os jogos. Recorda-se do tom geral das conversas, mas desconhece um caso específico de jogos com árbitros escolhidos.
Sobre Pinto de Sousa diz que «umas vezes acedia e outras indignava-se pela pressão do major» mas cedia sempre. Apesar de desconhecer as situações em concreto, justificou que nos jantares seguintes o major «agradecia sempre».
Tal como fizera já quando foi ouvida, a 18 de Dezembro de 2006, na fase instrutória, a antiga companheira do presidente do FCP aludiu ainda a uma suposta conversa entre os arguidos, Valentim e Pinto de Sousa, na Sala VIP do estádio do Bessa, no Porto. Na fase instrutória referiu que o autarca de Gondomar se mostrava indignado pelo facto de o árbitro que apitara o jogo do Gondomar não ter alegadamente beneficiado ou ajudado de maneira a que o clube pudesse ganhar. Tal encontro terá ocorrido «seguramente depois de Maio de 2003», afirmou esta manhã, sem acertar numa data concreta.
Inquirida pelo advogado do assistente, Dragões Sandinenses, sobre prendas a árbitros, a testemunha começou por referir que «não», para logo a seguir acrescentar que «falavam em prendinhas para o gajo», numa alusão a árbitros. Mais adiante, inquirida pela defesa do arguido Castro Neves, confirmou desconhecer a que árbitros em concreto se referiam.

Uma mala com presentes
A antiga companheira de Pinto da Costa exibiu mesmo em tribunal um troféu alusivo ao centenário do Boavista que lhe terá sido ofertado, em 2003. Carolina levou ao tribunal uma mala com várias recordações e dedicatórias do major e de Pinto de Sousa, alegadamente para provar a relação próxima que o casal mantinha com os arguidos. O Tribunal dispensou a exibição dos restantes presentes.
Major processou Carolina
O juiz aceitou o requerimento da defesa de Valentim para juntar ao rol de testemunha três pessoas, dois deles empregados do restaurante «Degrau Chá», para atestar que Pinto da Costa, o major e Pinto de Sousa nunca «em momento algum» jantaram ou almoçaram no «Degrau Chá ou noutro qualquer restaurante em que estivesse a testemunha», Carolina.
Amílcar Fernandes, advogado de Valentim, informou que o major processou Carolina por falsas declarações prestadas na fase instrutória, em Dezembro de 2006, tendo pedido a sua aceleração processual dado que o processo se encontra parado desde Julho.
Carolina poderá regressar ao tribunal mais vezes. O julgamento será retomado a 26 de Março, com a audição do perito Vítor Pereira.