10 de julho de 2016. Passaram 60 dias, dois meses intensos e quentes. A seleção nacional até já desceu à Terra, perdeu na Suíça a abrir a corrida para o Mundial 2018. Vai voltar a perder, a empatar, a ganhar, a tentar outra vez. Chama-se viver. A diferença é que naquela noite viveu algo único, um sonho feito realidade e que será para sempre. Antes que o verão acabe e tudo se dilua no ruído do dia a dia, vale a pena recordar Paris.

Claro que a foto para a História é esta, é festa

Mas aquela imagem de Cristiano Ronaldo é gigante. O desespero a atirá-lo ao chão, a expressão a assumir o fim, enquanto lhe pousava no rosto e lhe lambia o suor e as lágrimas uma traça que a memória vai transformar em borboleta, porque isto é poesia.

Uma imagem assim não merecia ser epílogo. Merecia ser, como foi, o momento que leva a história para outra dimensão. Perder Ronaldo foi drama mas não o fim. Era o que faltava para selar o alinhamento cósmico dos astros, todinhos, por Portugal.

O resto fica como uma sucessão de imagens e sensações até à apoteose. Ronaldo a levantar-se ainda, a insistir sob os aplausos do estádio mas a acabar por sair, a França a deixar-se acabrunhar pelo peso do momento e Portugal em campo a deixar para trás, com o passar dos minutos, o lastro da história, o medo do destino, o medo de falhar. E depois Ronaldo a gritar para dentro junto à linha a atropelar Fernando Santos, o prolongamento e o livre de Raphael Guerreiro que foi à trave mas não entrou. E por fim Éder.

Desta vez, o fim da história para Portugal não seria uma imagem de dor, a frustração de ter caído por pouco.

E que história foi. Portugal, finalista afinal de contas depois de um campeonato cinzento, a equipa que até ali tinha vencido um único jogo em 90 minutos, frente à sua besta negra de tantas batalhas perdidas, que jogava em casa. Portugal perde a estrela ao fim de quinze minutos de jogo mas resiste, acredita e no fim ganha com um golo do avançado que era o patinho feio da companhia. Tanto cliché junto num guião dava um telefilme piroso de domingo à tarde, mas vivido a sério é perfeito.

Estas memórias não são para guardar. Estarão sempre aqui: o filme da final, e as melhores imagens, e todo o Euro 2016.