Não será fácil repetir os três títulos da época de estreia (Supertaça, Taça da Liga e Liga Europa), que amenizaram o modesto sexto lugar na Premier League, mas José Mourinho parece ter conseguido um «upgrade» no Manchester United, que chega à Luz com nove vitórias, dois empates e apenas uma derrota (com o Real Madrid, na Supertaça Europeia).
Ainda que Lukaku tenha quase o dobro dos golos que Ibrahimovic somava há um ano (onze para seis), este «upgrade» explica-se sobretudo com a certeira contratação de Matic, que fez a equipa subir uns bons metros no terreno, fruto da capacidade de pressão em zonas adiantadas e a qualidade incutida na primeira fase de construção.
O Man Utd conserva os pilares fixados por Mourinho na época anterior – coesão e organização -, mas agora começa a mostrar algo mais em termos ofensivos. Algumas dinâmicas nem são propriamente novas, mas o trabalho limou-as.
Mourinho já recorreu a um esquema com três centrais (na Supertaça Europeia e, mais recentemente, na visita a Moscovo), mas a base tem sido o 4x2x3x1.
Onze base
Uma estrutura muito dinâmica, contudo, com “assimetrias” positivas na organização ofensiva, que dificultam a tarefa dos adversários.
Se o lateral esquerdo (Blind ou Darmian) é tendencialmente conservador, nunca se afasta muito dos centrais, o dono do lado direito (Valencia ou Young) tem liberdade para subir frequentemente pelo corredor.
Até porque mais à frente costuma estar Juan Mata, em incursões constantes para a zona central, para junto de Mkhitaryan. O arménio também pode fazer este papel (tal como Herrera), mas tem sido utilizado quase sempre como «10», hábil a encontrar espaços no último terço e astuto a conduzir as transições (cinco assistências e dois golos).
Para o lado esquerdo do ataque a aposta de Mourinho tem sido um jogador mais vertical, que faça diagonais de ligação a Lukaku, transformando-se assim num segundo avançado. Rashford (cinco golos e quatro assistências) tem sido a aposta principal, mas Martial também tem estado em plano de evidência nas últimas semanas (cinco golos e cinco assistências), e há ainda Lingard (um golo e três assistências).
Estas dinâmicas ofensivas acabam por encaixar também no tal esquema de três centrais a que José Mourinho já recorreu. Na Supertaça Europeia, por exemplo, o técnico português juntou Lindelof, Smalling e Darmian na linha mais recuada, e depois tinha Valencia e Lingard pelas alas.
Ainda que seja frequente ver dois médios a recuar até junto dos centrais para pegar na construção, o Man Utd consegue também colocar muita gente dentro do bloco defensivo contrário. Os «red devils» alternam bem entre jogo exterior e interior e são particularmente perigosos a tirar proveito de cruzamentos para a área, onde aparecem vários elementos (Lukaku e Fellaini são as principais ameaças).
Se a construção de jogo está mais embrulhada, se os caminhos para a baliza estão bem fechados, então a equipa tem sempre a solução de um futebol mais direto para Lukaku, eficaz a segurar a bola na frente.
Em termos defensivos o Man Utd continua a ser uma equipa muito sólida, e a prova disso é que tem apenas seis golos sofridos. De Gea ficou com “folha limpa” em oito jogos!
A equipa de José Mourinho tenta condicionar o adversário logo na primeira fase de construção, com Lukaku sempre disponível para pressionar os centrais e os médios a acompanharem os jogadores que recuam no terreno para pedir a bola. A linha defensiva procura acompanhar este movimento e subir ligeiramente no terreno, e tem conseguido controlar o espaço que fica nas costas.
Quando chega a hora de baixar o bloco, a equipa mostra enorme solidariedade, destacando-se aqui também o sacrifício dos alas, que têm sempre a preocupação de fechar o corredor. Os laterais podem assim acompanhar os movimentos dos adversários diretos, mas a linha mais recuada do Man Utd transforma-se muitas vezes num muro com cinco ou seis elementos. A linha intermédia tende a ficar algo estreita, neste cenário, mas isso é compensado pela dimensão atlética de Matic, Pogba ou Fellaini.
A figura: Nemanja Matic
As estatísticas podem apontar para Romelu Lukaku, outro dos reforços, mas os números dificilmente explicam o impacto de Nemanja Matic. A inclusão do médio sérvio na estratégia de José Mourinho permitiu que a equipa subisse uns bons metros no campo. Pela dimensão atlética que dá ao plano defensivo, a pressionar em zonas adiantadas, e pela capacidade técnica que dá à construção de jogo e que acaba por «empurrar» o adversário para trás. Os atributos que o fizeram brilhar com a camisola do Benfica, e que Mourinho, que já tinha trabalhado com Matic no Chelsea, fez questão de recuperar.