O título não pertence apenas a André Villas Boas que, por sinal, até começou a treinar aqui. Também Sérgio Conceição passou a estar, desde esta terça-feira, sentado numa cadeira de sonho. Dedicou-a aos seus dois heróis já desaparecidos, os pais, que, garantiu, teriam adorado vê-lo neste dia. Sentimentos à flor da pele em Coimbra.

«Estou muito contente e até emocionado, tenho que dedicar este regresso a dois ídolos, que já não estão entre nós: os meus pais. Sei que gostariam de me ver hoje aqui. Todos nós somos conimbricenses e sentimos a Briosa de forma especial», referiu, num sala de Imprensa apinhada, para assistir ao regresso de um bom filho.

«Um jornal falava hoje em cadeira de sonho, e é verdade. Era uma ambição minha e agradeço à direção a oportunidade para treinar um grande clube como é a Briosa. Quem me conhece, sabe que a minha dedicação e entrega vão ser totais», completou, mostrando-se otimista no futuro:

«Além da grande equipa que nós temos, já a defrontei este ano, sei da qualidade destes jogadores, vou tentar inverter estes últimos resultados porque Académica merece estar sempre entre os grandes, porque é grande a Académica.»

«Vamos mudar algumas coisas, em função dos meus princípios e daquilo que a equipa necessita, mas é uma questão de confiança e mentalidade, de os jogadores acreditarem que é possível. Sou o primeiro a acreditar e por isso estou aqui. Vamos dar o máximo nestas cinco finais, até fazer 15 pontos se for possível.»

«A Académica vai manter-se? Obviamente que sim»

Há dois anos, quando Ulisses Morais veio para a Académica em circunstâncias muito semelhantes, o desafio já lhe tinha sido lançado. Na altura, classificou a pergunta como uma daquelas que valem um milhão de euros, mas apostou que a Briosa ia conseguir a manutenção. Sérgio Conceição fez algo semelhante.

«Se eu não acreditasse, não estaria aqui. Obviamente que sim. Mas sendo da terra, não terei maior ou menor responsabilidade, apenas a responsabilidade de ser profissional e dar o melhor de mim», disparou, sem esquecer Pedro Emanuel.

«Ganhou um título, e, como academista, fiquei muito contente com isso. Entrou na história. Tenho, claro, outra forma de pensar. O Pedro fez o trabalho dele, e eu vou fazer o melhor que sei e posso, com máxima dedicação. Quem olhar para todo o meu historial sabe que sou assim mesmo.»

«Claro que falei com ele. Somos amigos, jogámos juntos no F.C.Porto, quando, em 2004, ganhámos a Liga dos Campeões com o Mourinho. Eu não podia jogar por já ter alinhado pela Lázio, mas fui colega, sou amigo e colega de profissão. A nossa relação é a melhor possível, entre duas pessoas que se respeitam», completou.

Instituição acima das querelas

Antes da apresentação de Sérgio Conceição, o presidente da Briosa fez questão de, também ele, deixar uma palavra para o treinador que saiu, para quem pediu até uma salva de palmas. «Despediu-se como homem, amigo da Académica, como pessoa que ganhou 3-0 ao F.C. Porto, venceu a Taça de Portugal, e nos conduziu na Liga Europa, e à vitória sobre o Atl. Madrid.»

«Não podemos esquecer quem trabalhou tão bem para nós. É assim a Académica, é diferente dos outros clubes, sabe agradecer a quem cá esteve», acrescentou, aproveitando ainda a ocasião para esclarecer que ficaram sanadas as quezílias com o agora novo técnico dos estudantes.

«Quem não me conhece tem uma opinião diferente, quem me conhece sabe que sou outra pessoa. Tivemos ocasião de falar um pouco sobre esses assuntos e agora vamos ter uma relação de confiança, estima, consideração, respeito pelo trabalho e espaço de cada um. E, em conjunto com sócios e jogadores, vamos fazer uma Académica melhor», afiançou.

Sérgio Conceição assinou por baixo. «Como pessoas de bem, falámos o que havia para falar e esclarecemos tudo. Esta instituição está acima de mim, do presidente, de todos», sublinhou, precisando que «não foi muito difícil» aceitar a proposta.